
Durante os dois dias de práticas intensas foram ministradas pelo Mestre aulas nas disciplinas de Iaido, TenChi Tessen e Aikido. Apesar do receio inicial dos organizadores quanto à participação dos praticantes devido à data escolhida, o evento contou com mais de XXXX alunos, distribuídos entre participantes locais da própria escola, da comitiva sergipana, liderada pelo instrutor Luciano Larré, e de alguns praticantes da Aikikai.
O primeiro dia do evento iniciou com uma aula de Iaido repleta de detalhes e novidades. O Mestre fez questão de falar sobre o cerimonial, corrigir movimentos de base, revisar o Seitei Iai (katas da Federação Japonesa de Kendo) e apresentar os katas próprios da escola TenChi. Esta foi a base escolhida para todo o evento, que ainda contou com mais duas aulas, uma no próprio sábado à tarde e outra na manhã seguinte.
Após um pequeno intervalo de quinze minutos o Mestre voltava ao tapete para a primeira aula de TenChi Tessen, a arte da escola, como o professor Paulo costuma falar, já que foi o próprio Mestre quem a criou. A aula contou com uma dinâmica bem diferente dos anos anteriores e uma ênfase maior na respiração. Apesar do ambiente descontraído, ficou bem claro que com o passar do tempo o rigor técnico cobrado dos alunos brasileiros também aumentou bastante, o que é um reflexo do interesse apresentado pelo grupo. O Mestre também fez questão de parar a aula para conversar com os alunos sobre teoria e prática, o que se repetiu nas aulas seguintes. Sempre por perto, uma frase me chamou atenção: “Vocês devem aprender a aceitar os próprios erros para poder continuar caminhando”. Pensando um pouco mais nela e ainda como iniciante nas disciplinas do Budo, fica cada vez mais clara a correlação tapete/vida que o professor Paulo sempre menciona nas suas aulas.
Mais quinze minutos de intervalo para que alguns alunos mudassem seu Dogi (uniforme usado no caminho escolhido) e iniciaria, então, a aula de Aikido. Muitos alunos já entravam no tatame para um aquecimento prévio quando o professor Paulo me chama discretamente e me informa que este estágio seria ainda mais especial para mim. Pela primeira vez eu seria o Aite do Mestre Stobbaerts. Em poucos segundos todas as minhas expectativas perante a aula se transformaram em um nervosismo difícil de entender e que apenas depois de muitas quedas eu consegui controlar. O Mestre iniciou a aula mostrando como respirar nos movimentos através de uma dinâmica com o terceiro princípio de imobilização (San-kyo) e a importância da confiança entre Aite (aquele que toma iniciativa) e Shite (aquele que efetua o movimento) para que as técnicas possam fluir através de um movimento de alongamento dorsal que parecia com um Shio-nage. A aula continuou com movimentos Ju-Tai difíceis de entender e que só um verdadeiro Mestre consegue executar. Nas demais aulas, o Mestre também fez questão de mostrar que existem pontos importantes a serem estimulados na prática, o que diferencia a técnica “limpa” da técnica executada apenas para derrubar ou imobilizar uma outra pessoa. No Sábado à tarde mais um momento especial estava por vir. Antes do cerimonial de encerramento da aula, a aluna Tereza Marinho foi chamada pelo professor Paulo para receber do Mestre seu Hakama e sua faixa preta de 1 Dan pela escola.
Ainda no sábado, à noite, após a maratona de treinos, tivemos o nosso jantar de confraternização. O restaurante Hakata foi tomado por uma alegria contagiante, que contou com diversas brincadeiras e a tradicional cerimônia do wassabi para os que receberam graduações recentemente. Foi nesse ambiente de harmonia e celebração que um dos momentos mais marcantes do estágio aconteceu. O instrutor Luciano Larré fez o discurso de agradecimento ao Mestre Georges Stobbaerts e, através de poucas mas sinceras palavras, o convidou a realizar um Estágio Internacional de Budo em Aracaju em 2010. O Mestre, muito comovido, agradeceu a todos a presença e os esforços para a realização do evento e finalmente respondeu “Je serai là”, aceitando o convite de Larré e intensificando ainda mais as comemorações dos vinte anos da escola no Brasil.
No domingo, mais aulas, muitas informações e infelizmente a despedida. Existem momentos que são impossíveis de se repetir ou contar, momentos únicos e que apenas as pessoas que participam é que conhecem o verdadeiro sentimento de cada gesto transmitido. Que bom que a escola TenChi, com ajuda de cada integrante, nos oferece esses momentos que acabam mas ficam para sempre em nossas memórias e na história de uma verdadeira escola não só das artes do Budo, mas da vida.
Fotos: http://picasaweb.google.com/tadeumarinho/XXVIIEncontroNacionalDeBudo